A guerra pela água



A crise mundial de abastecimento de água para as populações, que se avizinha, já atingindo em cheio vastas extensões territoriais no mundo, é um serio problema que nos afeta direta e indiretamente.
Embora ostentando uma posição privilegiada, porque detém cerca de 13,7% das reservas de água doce utilizáveis do planeta, o Brasil além dos problemas internos de desperdício, mal uso, poluição e deterioração de mananciais, vem se defrontando gradativamente, com um processo de exploração silenciosa destas reservas, decorrente da “importação crescente de água”, por parte de paises onde esse recurso vai se tornando cada vez mais escasso.
O problema, deveria ser objeto de maior preocupação e planejamento da parte de nossos dirigentes, mas, ao que parece, passa ao largo inclusive do grande publico, que não se dá conta do processo predatório.
Embora o consumo pessoal (uso domestico), seja o alvo preferencial das campanhas desenvolvidas por entidades de toda ordem, este representa juntamente com as atividades complementares, do tipo: hoteis, hospitais, comercio, etc., apenas cerca de 8% do consumo médio atual. Enquanto isso, a agropecuária responde por cerca de 70% do consumo global e as industrias, por cerca de 22% !
Essa equação desigual, num mundo globalizado, tem sido responsável pela transferência gradual de atividades intensivas no uso da água, para os paises que detém maiores reservas e não mantém politicas coerentes de gerenciamento desses recursos escassos.
A titulo de exemplo, a produção de uma tonelada de grãos, demanda cerca de 1.000 toneladas de água; a produção de um quilo de camarão em cativeiro, demanda cerca de 50 mil litros de água; para produção de um quilo de carne bovina, são necessários cerca de 110 litros de água, levando em conta, apenas o consumo direto dos bovinos até o ponto de abate. Começam a perceber porque e a quem interessa, o Brasil vir experimentando recordes crescentes de exportação de produtos agropecuários ?
O mesmo ocorre em relação às atividades industriais que demandam grandes quantidades de água, como por exemplo, a industria têxtil, ceramista, a de bebidas e alguns processos de mineração e metalurgia.
Ao importar produtos em cuja produção utiliza-se grandes quantidades de água, indiretamente, os demais Paises estão explorando, nossas reservas potenciais de água, porque não lhes é interessante produzir em seus próprios territórios, onde estas reservas já são escassas. Ocorre portanto, uma “importação indireta de água”, que atinge nossas reservas, acrescendo problemas outros, como a poluição e degradação de mananciais.
É preocupante a perspectiva de converter o Brasil, num grande celeiro de produção de biomassa, para produção de combustíveis como o etanol, porque isto atingira diretamente nossas reservas de água. Como já ocorre com outros produtos, a exemplo da celulose produzida em larga escala, essa exploração predatória de nossas reservas de água, tende a agravar os problemas de abastecimento para as áreas urbanas.
Urge adotarmos políticas serias e eficazes de gerenciamento de nossos recursos hídricos, que não contemplem apenas, o superficialismo e a hipocrisia, de campanhas que condenam com indisfarçável veemência, o simples ato de escovar os dentes ou fazer a barba com a torneira aberta.
Enquanto o governo, ufanisticamente e na maior desfaçatez, comemora recordes continuados de exportação de produtos, que representam os maiores “sumidouros” e fontes de contaminação de nossos mananciais.
Paulo Mendes – Economista.

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