Galileu, Abraão e Doenitz.

Galilei Galilei foi um personagem da Historia, considerado um matemático, astrônomo e físico italiano, que desenvolveu e propagou a teoria de que a terra se move em torno do sol, a partir das idéias iniciais de Copérnico – uma idéia do universo, diferente do que a Igreja católica pregava à sua época.
Embora hoje, reconhecido como gênio da ciência, pela própria Igreja, à época sofreu violenta perseguição, chegando a ser julgado pelo temível Tribunal da Inquisição, a ponto de ser obrigado a ajoelhar-se, ler em plenário e assinar sua sentença, na qual renunciava às suas idéias e crenças. Dizem que, ao se levantar, num átimo de lucidez, Galileu teria exclamado: “Eppur si muove” (e, no entanto, ela (a Terra) se move). Suas idéias, mais tarde converteram-se em verdade cientifica, enquanto o Tribunal do Santo Oficio, hoje é retratado como uma das paginas mais execráveis da historia da humanidade.
Abraão, um personagem bíblico, foi também submetido a situação humilhante e submissa para provar sua fé, contrariando sua vontade e as próprias leis do Deus a quem se submetia (“Não mataras”), obrigado a conduzir seu filho Isaque, para imola-lo em holocausto no Monte Moriá. O Livro dos Jubileus, no verso 16 do seu capitulo 17, explica o sacrifício de Isaque dizendo que o diabo teria pedido a Deus que provasse Abraão em relação a seu filho. Embora, a Bíblia nada revele sobre esta hipotese, registrando apenas como uma prova de obediência a Deus. Sabe-se que no ultimo momento, um enviado Anjo do Senhor, teria impedido Abraão de praticar o desatino, substituindo seu filho por um cordeiro.
O almirante Karl Doenitz, figura nas paginas negras da Historia, como o temível Comandante da Kriegsmarine, ganhando notoriedade pelas ações desenvolvidas pela frota de submarinos alemães, os quais, infligiram perdas consideráveis aos inimigos, durante a 2ª Guerra Mundial. Fiel e devotado escudeiro de Hitler ate seus últimos momentos, foi apontado como seu sucessor, em detrimento de outros importantes militares como Hermann Goering e Heinrich Himmler, considerados os mais prováveis indicados. Após o suicídio do Fuhrer, já então alcunhado de Fuhrer de Flensburg, assumiu o comando geral do que restava das derrotadas legiões nazistas, celebrou a rendição incondicional da Alemanha, ate ser preso e conduzido ao Tribunal de Nuremberg. Onde, por fidelidade canina ao Fuhrer, atribuiu “a culpa pelos horrores nazistas, aos políticos que teriam levado o nazismo ao poder e iniciaram a guerra”; negou covardemente, a existência de campos de extermínio e declarou no tribunal: “Que teria sido da nossa pátria se o Fuhrer não nos tivesse unido no nacional-socialismo? Dividida pelos partidos, desmembrada pelo veneno corrosivo do judaísmo... há muito teríamos caído nas mãos do inimigo...”. Culto doentio à personalidade.
Rememorei estes episódios, após assistir pasmo, o discurso de “renuncia à renuncia”, protagonizado pelo Senador Mercadante, no plenário do Senado. E fico a questionar: “Ate que ponto, um ser humano poderia resistir na noite de véspera, durante cinco obscuras horas, ao que parece ter sido uma sessão de tortura ideológica, uma pajelança política, uma sessão de descarrego de suas crenças e idéias?”. Francamente, não sei se esteve perante algo semelhante a um Tribunal de Inquisição, no alto do Monte Moriá, ou no Bunker do III Reich.
Mas, que o seu semblante, por maior desfaçatez ou dissimulação tentada, revelava a ocorrência de um verdadeiro “estupro político”, numa noite de horrores ideológicos e morais, disso não restou lugar a duvidas...
O que significa afinal, este tão decantado “decoro político”? Quais os limites do servilismo, renuncia a crenças e culto à personalidade? - Paulo Mendes – Economista

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