O vendedor de garrafadas

Quem freqüenta as feiras livres de nossas cidades interioranas, conhece bem a figura do vendedor de “garrafadas”, líquidos preparados à base de sabe-se la o que, comercializados em profusão, e que supostamente, servem para curar todas as doenças: enxaqueca, febre, cansaço, TPM, impotência, unha encravada, câncer e, nos últimos tempos, ate gripe suína.
Dizem os “entendidos”, que se trata de misturas de ervas e raízes, preparadas segundo ditames da “sabedoria popular”, acumulada ao longo de tempos imemoriais. As tais “soluções”, baseiam-se em conhecimentos transmitidos por pajés, feiticeiros, pais e mães de santo, e outros conhecedores do assunto, que reuniram experiências de hábitos, costumes e resultados obtidos por seus antepassados ou contemporâneos, guardadas na memória e fazem uso no seu mister, de inovações e novas experiências, geralmente praticadas à revelia de controles científicos.
O vendedor das “garrafadas”, geralmente é um sujeito que se expressa com facilidade, dotado do dom da oratória, e que também procura reunir conhecimentos sobre as doenças que mais afligem a população.
A feira livre, é seu palco predileto. Ali, opera como um líder nato, atraindo multidões, e sua popularidade, supera a de qualquer outro comerciante convencional. “Fala pelos cotovelos”, num discurso às vezes sem sentido, mas que atinge o objetivo de convencer as grandes “rodas” que se reúnem à sua volta.
“Duas aqui para o cavalheiro, que não tem dinheiro para comprar viagra, mas vai voltar depois para comprar outras”; “uma para a dama que já não aguenta a dor da unha encravada”; “o senhor ali de blusa listrada, vai querer uma, para curar a dor de coluna”; e “a senhora que esta com câncer nas partes, nem vai precisar fazer operação”...
Ao tempo em que recolhe os trocados que vão lhe pagando, as pessoas nem se dão conta, que “o charlatão”, se converteu num “milagreiro”, e a ilusão das “curas” prometidas, toma lugar de qualquer senso critico. As pessoas ficam como que “anestesiadas” pelo discurso e logo aparecem alguns “militantes”, para relatar supostas experiências bem sucedidas. Tudo faz parte de encenações muito bem elaboradas.
Na semana seguinte e talvez nas próximas, o vendedor de “garrafadas” voltara, sempre com uma desculpa muito bem elaborada, para explicar os fracassos. Ate a inevitável diarréia, decorrente da ingestão daquelas beberagens, acaba se convertendo em “parte do processo de cura, para expulsar os males do organismo”... E se alguma dor piora, “podes crer que foi pela ação forte do malsinado remédio, que esta fazendo efeito aos poucos”... “É o tumor encolhendo, pela ação da garrafada, meu fio! Tome mais umas duas e esse “danado” vai ser botado fora pelo “fiofó”, qui nem o diabo foge da cruz!”...
Como se pode ver, o povo é enganado facilmente. Gosta de viver por conta de ilusões e promessas fantasiosas. O imaginário popular, é tão fértil e vulnerável, que pode transformar qualquer “vendedor de garrafadas” num expoente de popularidade ou num autentico “milagreiro”, mesmo em se tratando de um charlatão, que apregoa suas virtudes exageradamente.
Suas “soluções mágicas”, se convertem em promessas infindáveis, que vão se “concretizar” na próxima semana, ou no próximo mês, ou no próximo ano, enquanto continua com sua representação ilusionista.
Basta ter um discurso populista e bem engendrado para cada ocasião. Como alias, acontece com certos lideres políticos, em algum pais tropical...
Paulo Mendes – Economista.

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