Os fatos e o mito

No ultimo domingo, dia da Independência, a sociedade brasileira esperava um pronunciamento firme, objetivo, do Presidente, sobre a crise institucional em curso, que afeta frontal e criminosamente os direitos e garantias individuais, a autonomia e independência entre os poderes – ameaça explicita ao Estado de Direito. Fruto da ação de bisbilhoteiros profissionais, ou a serviço de chefias irresponsáveis, ou por iniciativa própria, o que também espelharia inércia de quem comanda, num ambiente sarcástico em que como sempre, “nada se viu, nada se sabia”.

Admite-se que o mais alto mandatário da Nação tenha, muito ao seu estilo, optado por não importunar nossas famílias com querelas institucionais. E por que se diz superdotado de “muita sorte”, sendo devoto das “tiradas futebolísticas”, talvez antevendo o alivio domingueiro propiciado pelos canarinhos contra o “fantástico” esquadrão chileno.

Optou por oferecer um coquetel em doses cavalares do “óleo cru”, que supostamente advirão da “odisséia do pré-sal”... Embora tratando de um assunto tão “profundo”, acabou por tergiversar sobre a educação, surfando na nova onda, a ponto de simular um pseudo “dia do fico”, entubando seu mandato até as calendas gregas, quando estima-se tecnicamente, que os resultados financeiros da empreitada, somente se concretizarão tecnicamente, a partir de 2.014.

Invadiu limites da competência administrativa, sobrepôs-se aos ditames constitucionais que rezam sobre disposições orçamentárias, e interveio nas leis de mercado – excluindo subliminarmente a Petrobrás dos direitos de lavra, ao assegurar profeticamente que recursos oriundos do ainda indecifrável pré-sal, serão alienados a uma rubrica, que, somente estará sendo definida, legislada e tramitada, no curso do próximo mandato. Embora já fincando no ar, a pedra fundamental da “PRÉ-SALBRÁS”, uma nova elefante branco estatal, que certamente abrigará o “aparelhamento cabidiloso” de alguns milhares de diligentes e devotados companheiros. Nos bastidores, foram esquecidos dados estatísticos oficiais que atestam ter o atual governo, deixado de cumprir obrigações orçamentárias e investir valores que superam os 20 bilhões de reais em educação, entre 2.003 e 2.007 – que embora legalmente rubricados, foram desviados para destinações outras. Suprimidos por iniciativa própria da política praticada até então, certamente motivaram o “sentimento de culpa”, que moldou a prestidigitação televisiva compensatória.

Milhões de brasileiros, sob efeito alucinógeno do coquetel de óleo cru, e diante os raios fulgidos na telinha, somaram brados retumbantes, a cada gol da seleção, dormitando em berços esplendidos no final da semana, sonhando transpor o portal de uma Nação de diplomados.

Na segunda-feira, as “trombetas de Jericó” derrubavam as bolsas, as ações da Petrobras seguiam o mesmo curso, o dólar voltou a subir e o famigerado “COPOM” já alimentava especulações em torno de mais 0,75% na SELIC.

Lucubrações filosóficas ou complexas análises acadêmicas sobre o tema, cederam lugar, à lembrança da folclórica estória da “menina do leite”, amplamente conhecida nas imensas hostes de “sem diplomas” acadêmicos deste País. Na condição de autoridade publica, diplomado em cargo eletivo, caberia ao menos, observar ditames da matriz normativa a que estamos todos subordinados – em especial, aqueles que juram cumpri-la, no limiar do exercício do cargo ocupado.

Na escalada eleitoral, reflexões sobre a seriedade e gravidade dos fatos que afetam a preservação do Estado de Direito, acabam dar lugar a folclóricas adaptações convenientes de um mito popular – a pobre “menina do leite”, virtualmente substituída pelo novo e sortudo “sheik” do petróleo... Paulo Mendes – Economista.

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