Agora é tarde...

Qualquer personagem politico, seja contemporâneo ou de um passado distante, defronta-se com as fatais reciclagens da historia contada ou recontada, em versões às vezes dispares. É o fenômeno do passar do tempo, cujas nuances transformam o julgamento passado, presente ou futuro de cada um. Noutros tempos, de limitada influência das mídias existentes, ou por conta de também limitadas liberdades de expressão e percepção da realidade, as versões auto-construidas ou engendradas por grupos de interesse, prevaleciam por mais tempo.
Foi assim com grandes personagens de nossa historia, tais como, D. Pedro, Caxias, Bonifácio de Andrada, Tiradentes, Getulio, Juscelino, e tantos outros, cujas passagens no cenário nacional, estiveram imaculados, ate que o passar do tempo e as reviravoltas interpretativas, trouxeram à luz, suas verdadeiras dimensões: positivas ou negativas, a depender do ponto de vista posterior.
Nos tempos atuais, moldados pela mídia investigativa, maior liberdade de expressão, ondas avassaladoras de mudanças repentinas e choques inconsequentes de interesses, a mutabilidade das versões e interpretações dos fatos, tornou-se regra geral e vulnerável ao sabor das circunstâncias. A grande diferença entre o passado e o presente, esta na virtualidade atual, propiciada pelos instrumentos artificiosos do “marketing pessoal”, capaz de construir ou desconstruir personagens, num átimo, ou quando muito, enquanto perdura seu “prazo de validade” para atender a determinada função ou missão. Nesse contexto, o marketing é quase sempre escudado por um certo acumpliciamento da mídia, capaz de reverter situações negativas e enaltecer feitos, a ponto de, conferir ao personagem os atributos de um “carisma” artificialmente construído e confundir temporariamente a platéia, num ilusionismo abstrato e incompreensível.
A mitologia e a historia da humanidade, revelam que, a cada tempo e forma de apreciação, aquilo que ultrapassa nossa capacidade de compreensão, torna-se um “fenômeno”, um “mito”, endeusado, admirado ou ate venerado. Ate que o tempo, nos proporcione novas visões da realidade, e nos proporcione melhor entendimento do que passou.
O “fenômeno” Luis Inácio da Silva, cujo prazo de validade, caminha para o crepúsculo inapelável, no curso de dois mandatos, converteu-se num líder carismático, capaz de superar quaisquer episódios negativos e, manter-se num elevado nível de popularidade, a ponto de seus adversários mais ferrenhos, temerem atacar seu “personagem” construído pela genialidade de um marketing audacioso e eficaz.
A mídia, teceu loas ate às suas gafes, metáforas, e trapalhadas políticas. Fez vistas grossas às mutações camaleônicas de seus princípios e idéias. Aceitou passivamente, toda espécie de parcerias políticas, por mais esdrúxulas. Rendeu-se à inusitada indicação de uma candidata, não propriamente pelos seus méritos, mas porque representava um desafio à sua popularidade.
Paradoxalmente, à medida em que se aproxima o fim do “prazo de validade” do personagem, começam a pontuar nessa mesma mídia, referencias criticas ao desempenho do seu governo: “o Lula converteu-se num mito narcisista, que so enaltece e admira seu personagem”; “o governo Lula, transmudou a política externa brasileira, conduzindo nossa imagem externa ao ridículo”; “na perspectiva de futuro, Lula é um fracasso”; “Lula não enfrentou como deveria, as grandes questões nacionais, das reformas tributaria, política, previdenciaria e trabalhista”; “o consumo desvairado do governo, multiplicou-se, enquanto as inversões financeiras tiveram evolução pífia”; “a burocracia piorou, com o surgimento de novas normas conflitantes”; “a estatização foi retomada”; “os sistemas viário, de transportes, portuário e aeroportuário, representam obstáculos à logística da produção e exportações”; “o PAC, serve mais para comícios eleitorais do que alternativa para nossos problemas de infraestrutura – representa menos de 0,6% do PIB”; “a corrupção atinge níveis inéditos”; “a ética, perdeu-se em meio a sucessivas transgressões legais”...Agora, é tarde. Talvez, estejam tentando redimir-se, antecipando o “pós Lula...”

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