RESPEITEM A DESGRAÇA ALHEIA.

A repetição sistemática de tragédias que afetam a população brasileira, decorrentes de fenômenos naturais, agravados por um conjunto de fatores, principalmente chuvas torrenciais que se abatem sobre cidades de porte diverso, é conseqüência de problemas diversos, nem sempre evitáveis, e que se acumularam ao longo do tempo.
O fenômeno das favelas, das ocupações desordenadas de áreas de alto risco, soma-se à falta de planejamento urbano adequado, fiscalização eficiente e, políticas publicas eficazes, voltadas à superação desses problemas estruturais. Nossas cidades, quase sem exceção, convivem ainda com deficiências no saneamento, na limpeza publica, ausência de sistemas adequados de escoamento, deposição e destinação de resíduos sólidos e líquidos. Sem contar, outras mazelas, na segurança, saúde, emprego, educação, etc.
Os problemas, sem duvidas, são complexos, as soluções onerosas e em alguns casos tecnicamente difíceis de prever ou remediar, principalmente, porque se avolumaram num ritmo crescente nas ultimas décadas, em decorrência da urbanização acelerada. Na raiz da problemática, estariam questões sociais e econômicas conhecidas, que na pratica, levaram grandes contingentes da nossa população a buscar alternativas paliativas extremadas, à falta de condições próprias reais e, abandono da parte dos poderes públicos.
Viver embaixo de um viaduto ou morar num barraco pendurado num morro, não é uma escolha ou decisão consciente. É fruto de circunstancias, que transformam cidadãos premidos pela miséria, a engrossar o universo de verdadeiros parias, neglicenciados da sociedade, nela estando em primeiro plano, os administradores públicos, da União, dos Estados e dos Municípios, como responsáveis primeiros pelo atendimento de necessidades básicas essenciais e solução de problemas que os afligem.
Por isso, causa espécie o pronunciamento do senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em recente estada no Rio de Janeiro, quando da nova tragédia que mais uma vez, abalou aquela cidade: "Todas as enchentes atingem mais as pessoas pobres, que moram em regiões inadequadas. Não é mais possível permitir que as pessoas ocupem áreas irregulares. É preciso que os administradores públicos antevejam isso (grifo nosso)."
Caberia questionar: E o Presidente da Republica, não é o administrador de nível mais elevado na hierarquia do Executivo nacional? Onde esteve e o que estava fazendo, nos últimos mais de sete anos de governo, que não providenciou as soluções praticas necessárias para evitar a repetição destas tragédias humanas?
Cabe salientar que, que na oportunidade, o Presidente e comitiva, hospedados em hotel de alto luxo na zona “nobre” da cidade, não se encontravam ali, para ao menos, prestar condolências aos mortos ou solidariedade às demais vitimas. Pretendiam participar de mais uma “inauguração-comicio” de algumas unidades habitacionais, justamente num dos morros cariocas: as tais “regiões inadequadas...”. Evento que, por sinal, foi convenientemente abortado, por razões que dispensam comentários.
Mais graves que as tragédias em si, são as justificativas inócuas, repetitivas, vazias, as promessas que nunca se cumprem, a desfaçatez insidiosa, de políticos, que encaram e se aproveitam da desgraça alheia, como palanque para a próxima eleição. Falta-lhes o senso de humanidade, de cidadania, de compromisso com as pessoas mais simples e abandonadas, de dever para com os cargos que ocupam. Obviamente, não se deve responsabilizar os administradores atuais, como únicos, pelos problemas de longas datas. Mas ao menos, ao tempo do exercício de seus cargos, deveriam cumprir eficientemente sua parte com decência e operosidade, e jamais, achincalhar a desgraça alheia. Isso, é desumano, ignóbil, patético, ridículo. Melhor seria, um silencio respeitoso, ao oportunismo eleitoral.

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