Prevenir, se não temos como remediar

Abordei em artigo recente (Jornal Agora, 09/02/2010), a questão da verdadeira “guerra não convencional”, que enfrentamos no planeta, contra os efeitos e conseqüências das mutações ambientais que a natureza nos tem infligido nos últimos anos. Fenômenos de a muito conhecidos, tem assumido proporções imprevisíveis, e ocasionado conseqüências cada vez mais desastrosas.
Lembro o episodio bíblico dos quarenta dias e quarenta noites de chuvas torrenciais que inundaram a terra – pareceu-me pouco compreensível, à época das “lições de catecismo” na escola primaria – mas, hoje, diante o dilúvio que se abateu sobre São Paulo nos últimos dias, o terremoto do Haiti e outros episódios similares, da para ter uma compreensão mais concreta das forças da natureza.
Estes fenômenos, que passaram a ser apelidados de “desastres ecológicos”, e por comodismo, tem a culpa atribuída a uns tantos que “agrediram a natureza”, em verdade, datam de tempos imemoriais, quando ainda nem haviam inventado a moto-serra, e as chaminés das fabricas, so poderiam ser imaginadas como “coisas do demônio”...
Verdade é que, Pompéia foi destruída, assim como Sodoma e Gomorra, e as pragas do Egito infernizaram o Farao, numa epoca em que ninguém se preocupava com a camada de ozônio e o “Green Peace” não fazia manifestações ambientalistas.
Mas nem por isso, se justifica a nossa inércia e descaso para com as questões ambientais, que se tornaram graves e estão a requerer uma nova postura da sociedade. Postura racional, no sentido de enfrentar as novas realidades, com determinação e novas visões do mundo em que vivemos, assim como Noe preparou sua arca para superar o dilúvio. Afinal, so temos por hora, este planeta disponível, e não há projetos factíveis para mudanças emergenciais.
Observem por exemplo, que, no Brasil, não temos uma “cultura” e uma preparação adequada e sistemática para a chamada defesa civil, como já ocorre de longas datas noutros paises mais avançados. Nossos recursos técnicos, financeiros e humanos, para enfrentar calamidades, são insignificantes. Qualquer calamidade, resulta num desastre de proporções indefinidas.
Ouvi de um palestrante há algum tempo, que no Brasil, se ocorresse um desastre de grandes proporções, que afetasse os serviços públicos (água, luz, esgoto, telefone, transportes, etc), impedindo o uso da parafernália de equipamentos que adorna nosso cotidiano, somente uma comunidade teria condições de sobrevivência assegurada – os índios! – não aquelas figuras fantasiosas que aparecem na TV, invadindo terras na vizinhança das cidades e fazendo manifestações, com celulares, walkmen, e camisetas do flamengo. Refiro-me aos verdadeiros índios, que ainda vivem nas regiões longínquas, e convivem irmanados com a natureza, recorrendo à sabedoria milenar, para sobreviver em condições hostis.
Fiz uma experiência em sala de aula na universidade: pedi que os alunos da classe, fechassem os olhos por alguns minutos e, imaginassem como sobreviveriam, sem energia elétrica, casa para morar, ar condicionado, roupas, água encanada, televisão, geladeira, fogão a gás, telefone, etc, etc, ou sejam, os confortos e facilidades da vida moderna, que a tecnologia nos propicia em nossos lares e cidades. Não demorou para que uma aluna protestasse: “Professor, o senhor quer que todo mundo morra?”...O exemplo ilustra como estamos despreparados para enfrentar as adversidades. Vislumbro a necessidade imperiosa, de investirmos na preparação de grupos de ação, convenientemente orientados para situações de calamidade. Nossas escolas e universidades, não tem sequer, um curso de defesa civil. E os governantes nem se tocam. É hora de começarmos a preparar nossas “arcas de Noe”, porque a natureza não avisa, nem espera pelos descuidados.

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