O avesso do avesso...

O ano de 2009, cujo final se aproxima, foi rico em discussões sobre os temas econômicos. Uma questão que ocupou espaços escancarados na mídia, nos debates acadêmicos e discussões entre políticos, foi a famigerada crise deflagrada em meados do ano anterior.

Obviamente, pelas suas dimensões, não se poderia esperar tendência diferente, haja vista que, em cada oportunidade, o tema revelava-se palpitante e objeto de preocupações.

Depois de ultrapassadas as primeiras impressões e conseqüências, a crise, como tantas outras, foi arrefecendo e perdendo seu poder de ameaça apocalíptica. Mas, ainda hoje, guardadas as devidas proporções, continua sendo alvo de reflexões. E os reflexos produzidos nas economias de cada pais, continuam a ser parâmetro de avaliação, para as projeções dos anos vindouros.

Interessante depois de superados os primeiros efeitos da borrasca, é analisar os equívocos de interpretação cometidos, no inicio e no decorrer dos acontecimentos.

Por exemplo, alguns analistas apocalípticos, anunciaram aos quatro ventos, o fim do capitalismo, com a subseqüente redenção do Estado, como ente mentor da economia. Esse, um dos grandes equívocos.

Por razões lógicas, senão, vejamos o que aconteceu na economia brasileira, em linhas gerais: como medidas saneadoras, basicamente o governo brasileiro promoveu, a redução substancial das taxas de juros, ampliou linhas de credito, implementou políticas de redução da carga tributaria em setores estratégicos, beneficiou o sistema bancário com a maior liberação do compulsório da historia, acomodou-se a uma livre flutuação cambial. Embora tudo isso possa ser interpretado teoricamente como “intervenções saneadoras”, na pratica, representaram uma agradável e conveniente “redução” da participação do Estado na economia...

Ou seja, o avesso do que pregavam muitos “doutores” de ocasião, a ponto de verberar de forma contundente, a necessidade de “regulamentações rigorosas”, como tabua de salvação – o Estado, plenipotenciário, haveria de reprogramar tudo e, planificar a economia, à sua “imagem e semelhança”.

Ledo engano. A iniciativa privada, potencialmente carente de espaços, encontrou exatamente, nas “aberturas” promovidas, os espaços que lhe vinham sendo escamoteados, por políticas mais rígidas de atuação. Vejam o exemplo da bolsa de valores, que renasceu como “Fênix”, a ponto de alcançar nas ultimas semanas, níveis próximos do período pré-crise. Numa outra ponta, o consumo das famílias, garroteado pelos juros escorchantes de uma política monetária rigida, pode emprestar sua sensível contribuição à retomada do crescimento, na medida em que, sofreu um alivio razoável no custeio de financiamentos e empréstimos. Poder-se-ia ate, recorrer àquela velha máxima: “se não quiser ajudar, ao menos não atrapalhe...”.

Ou seja, o governo, em lugar de adotar políticas intervencionistas em larga escala, acompanhadas de rigidez nas regulamentações, fez sua parte, ao “deixar fazer”, “deixar passar”, lemas que povoaram as primeiras e atuais doutrinas do liberalismo... o avesso, do avesso da regulamentação estatal excessiva, traumatizante e predatória, para as economias que precisam ser oxigenadas com doses sistemáticas de liberdade de iniciativa.

A crise em si, trouxe esse beneplácito econômico, que nos lembra a idéia de transforma-la numa oportunidade. Certamente, se não acontecesse a crise, o governo manteria intactas suas amarras de regulamentação e, não promoveria as liberações apontadas, que foram decisivas para seu arrefecimento, no caso brasileiro. 2.010, poderá ser ainda melhor. - Paulo Mendes – Economista.

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