Devaneios

Depois da jurisprudência (ou será “jurisescrecencia”?) firmada na tal “Comissão de Ética”, ficamos com ligeira impressão que, fatos relatados e documentados na mídia, não representam coisa alguma. Talvez, na visão de alguns senadores, corroborada frequentemente pelo Presidente, a mídia seja em verdade uma “merdia”... Nadando contra esta corrente de lama e contrariando imposições anti-democraticas, vou acreditar no que li em manchete na pagina do UOL: “13 milhoes ficam sem aula mais uma semana no Brasil”. A noticia refere-se a medidas preventivas, adotadas em algumas localidades, em decorrencia da famigerada gripe suína, ou como queiram, gripe provocada pelo vírus H1N1, ou seja lá qual tipo de nova mutação apresente.

Paralelamente, convivemos ainda com resquícios da dengue, casos mais freqüentes de meningites, a nos impor limitações e, nos últimos dias a grande vedete tem sido as leis anti-fumo, implementadas em Estados e Municípios pioneiros. Isto, sem esquecer a tal “lei seca”. Como se pode concluir, a menos que também nesses casos, “a midia esteja apenas divulgando noticias infundadas”, o governo dispõe de mecanismos para prevenir e combater pragas que possam afetar os cidadãos. E os tem colocado em pratica, ainda que submetendo os cidadãos a limitações e imposições de toda ordem.

Causa espécie entretanto que, em relação às pragas maiores que assolam o Pais, a impunidade, a corrupção, os desmandos administrativos e a insalubridade que envolve a política atual, não haja a mesma determinação e adoção de mecanismos práticos para extirpar-las ou ao menos, amenizar seus efeitos, com limitações à politicagem deletéria.

Houve momentos de triste memória, em que críticos mais ousados e contundentes, satirizavam: “Os tres poderes da Republica, agora são: exercito, marinha e aeronáutica”. Estes períodos foram ultrapassados à custa de sacrifícios e reformulações significativas, a ponto de chegarmos a festejar, com o advento importante da nova Constituição de 1988, a retomada de um processo democrático.

Ninguém em sã consciência, há de contestar as auspiciosas conquistas que a democracia, em sua essência, sem adjetivações e conjecturas impertinentes, eventual e maldosamente usadas para “justificar” desvios de conduta por conveniências pessoais, representa o ideal de uma Nação, que pretende evoluir, progredir, alcançar os maiores objetivos e aspirações populares.

Aos que conhecem a essência da democracia, seus princípios e normas, a defendem como credo político e buscam pratica-la como regra de conduta, seria sensato admitir que, o ambiente político insalubre e desmoralizante, com o qual convivemos nos últimos meses – assoberbado pelos vícios herdados de épocas pregressas – é próprio de uma verdadeira e coerente democracia?

Obviamente que não. A exacerbação de deslizes e desmandos, na cúpula de poderes que deveriam representar bases sólidas, confiáveis e ordenadas, de um regime idealizado e formulado à base de eloquentes e sublimes princípios, subverte a ordem natural das coisas, faz pairar nuvens sombrias sobre nossos destinos e, compromete a crença nos ideais de justiça e liberdade. A ponto de algum satírico de plantão, poder chegar ao cumulo de parafrasear no momento atual: “Os três poderes da Republica, agora são: tropa de choque, atos secretos e conselho de ética...”

Causa espécie, o governo que dispõe de tantos mecanismos de ação e regulação, mormente, amparado em píncaros de popularidade - ao menos, é o que a “mídia, tão esculachada” proclama -, se mostrar impotente, insensível, indolente, a ponto de curvar-se a circunstancias notoriamente avessas. Esta submissão, doentia, inexplicável e intolerável, relega a liberdade e os direitos da cidadania, a reles subcondição anárquica.

Sob esta ótica, a manchete supramencionada, poderia ser: “200 milhões ficam num desgoverno, há vários meses no Brasil...” – Paulo Mendes - Economista

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