Protesto

Se o nosso Presidente, insistir na incontinência verbal, como aconteceu no lançamento do Fundo Setorial do Audiovisual, no Palácio Capanema, no Rio de Janeiro, ai sim: a crise, que falsamente não atingiria o Brasil, vai acabar se convertendo num tsunami.
No episodio, faltou ao nosso dirigente maior, a sobriedade, a educação, o respeito à platéia presente e, aos milhões de brasileiros, que certamente, sentiram-se ofendidos, ao tomar conhecimento do destempero verbal, propagado aos quatro ventos, pela velocidade da mídia, invadindo nossos lares, em termos tão rasteiros. Ate o site da presidência, envergonhado, registra como “inaudível”, talvez, na mesma linha do “não vi, não ouvi, não sei de nada”, muito próprio do chefe.
Acompanhei indignado e perplexo, à indecorosa reprodução pelos tele-jornais noturnos. Na manha seguinte, o mercado reagia à indiscutível manifestação de desequilíbrio emocional, de quem deveria adotar diante a crise, uma postura serena, equilibrada, responsável e digna de um mandatário: a cotação do dólar, após ultrapassar R$2,62, somente foi contida obrigando o BC a seguidas intervenções, que superaram US$1,3 bilhão; a bolsa mais uma vez, descia a ladeira. Perguntas imediatas: Quanto está custando à sociedade, as manobras e intervenções diárias do BC para minimizar efeitos mais desastrosos? Até que ponto, a economia tem sido afetada com a brusca desvalorização de nossa moeda ?
A fala do Presidente, foi inconveniente, imprópria para o momento, ou para qualquer outra circunstancia. O uso de expressões chulas, imorais, revela o desapego ao decoro. E o recurso a bravatas inverossímeis, como noutras situações recentes, não resistem ao desenrolar dos fatos: A Direção da Petrobras, anuncia o obvio: “o petróleo barato, ameaça exploração do pré-sal”. A empresa terá de desenvolver processo produtivo menos oneroso que o atual, para garantir a rentabilidade da exploração integral das reservas do pré-sal. Isso, adia para um futuro mais distante, a promessa da “redenção”, já extemporaneamente alardeada, e esbarra nas limitações de credito, quando os projetos demandam recursos bilionários.
Não foi diferente, com a suposta redenção do semi-arido, com a suposta produção de mamona para bio diesel; a outra idéia de inundar o mundo com álcool da cana, no momento, contrasta com a aflitiva situação de produtores e usineiros, diante a queda na demanda, decorrente da crise mundial.
A experiência do Presidente em falar do jeito que lhe vem à mente, tem revelado situações constrangedoras. Lembro de uma das primeiras conferencias internacionais a que compareceu, sugerindo um esquisito fundo internacional para eliminar a fome no mundo. O discurso, foi aplaudido; manchetes nos jornais, destaque nas TVs. Mas, ao final da conferencia, a proposta sequer foi registrada em ata. Nem todas platéias são um circo, onde qualquer um pode exibir pantomimas. Às vezes até aplaudem cerimoniosamente, por mera civilidade; que também às vezes, falta ao orador.
No caso em questão, diga-se mais: no Brasil, não precisa o Presidente dizer a um doente terminal, um palavrão para expressar o que vai acontecer a ele. O doente, toda a família e vizinhos, já sabem de sobra, diante a irresponsabilidade, a indolência com que o governo trata a saúde neste Pais. E isso nada tem a ver, com os ditos “cagões” do mercado.
Alias, nem foram eles que produziram de forma estabanada, uma “diarréia de MPs”, e outra “diarréia financeira” para dar liquidez ao mercado, quando as coisas ainda estavam apenas começando a acontecer em Wall Street e, aqui, os “iluminados” juravam de pés juntos que a crise não chegaria. A economia estava “blindada”! Uma blindagem de farofa e gabolices... O Estado, apenas se curvou às evidencias.
Paulo Mendes – Economista.

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