Falando sério ?

Imaginem se todos os torcedores que compraram camisetas da seleção como souvenir, para acompanhar a ultima vitória contra o Chile, resolvessem vende-las, após o indigesto empate com a Bolívia. Imaginem se de repente, um cientista maluco, apresentasse uma “maquina de desentortar bananas” nos programas domingueiros da TV, com todo apoio dos apresentadores; na segunda feira, milhares de compradores fariam fila para adquirir uma geringonça sem utilidade pratica mas, seu preço chegaria às nuvens.

Analistas e comentaristas “formadores de opinião”, teceram loas ao “inusitado desempenho” da seleção contra o “fantástico onze chileno” e se mostrariam embevecidos com a maquina, o que motivaria ainda mais os consumidores.

Imaginem agora, que os “produtos” citados são “derivativos” ou “subprimes”, que inundaram o mercado em momentos de euforia consumista e desenvolvimentista, com credito abundante. Depois que o publico se dá conta que comprou “gato por lebre”, sobrevém a decepção: os preços “desabam”, e os “produtos” se transformam em verdadeiras “batatas quentes”. É o cenário de uma “crise”, semelhante à que estamos acompanhando, diante a qual, cada um procura dar a explicação que melhor lhe convém, não dar explicação nenhuma, confundir ainda mais as coisas, ou sair pela tangente...

Existem “crises” e “CRISES”, para cada uma delas, há tratamentos diferenciados. Recentemente, na “crise” das comodities que desandou preços dos alimentos e levou milhões no mundo inteiro ao limiar da inanição, não vi nenhuma “Cúpula dos BCs” no mundo, injetarem bilhões de dólares em lugar algum, para salvar “qualquer Zé Mane”. Na semana passada, a “comoção financeira” que abalou maior parte da elite dos “Bookmakers” do cassino financeiro internacional, arrepiou... Uma gigantesca mobilização dos “BCs” – inclusive o nosso - e governos, derramou pelo ralo bilhões de dólares e acorreram aos velórios dos “Lehman Brothers” da vida, em intermináveis reuniões, para discutir as saídas possíveis, diante o “cataclisma” que se avizinhava.

Nosso Presidente, chegou a classificar como “apenas imperceptível” os efeitos da CRISE, e ainda aproveitou para “gozar” com as analistas de riscos, que pajeavam as gigantes da “Las Vegas” financeira. Será que estava falando sério ?

Certamente não. Foram estas mesmas “Agencias de Risco” que há pouco, conferiram ao Brasil, o tal titulo de “Investiment Grade”, comemorado com pompas e circunstancias pelo Planalto; incluíram-no entre os “BRICs” e, avalisaram a redução do “Risco Brasil”. À época, foram saudadas como “honoráveis”... agora, são tratadas como “estorvos”. Já sentiram o “mico” que estamos pagando ?

Os impactos da CRISE, ainda restritos à turbulência financeira da bolsa e da inquietante taxa de cambio (conseguem entender, por que a “desgraceira” está acontecendo lá na terra deles, mas é nossa moeda que desvaloriza ???), se refletirão sobre a economia real brasileira, com a retração dos créditos internacionais e internos, barreiras e queda de cotações de exportações, elevação de remessas de dólares e taxa de juros, revisão na evolução do PIB, e reflexos de incomodas medidas de política fiscal e monetária, que o governo deverá adotar. Nada de “imperceptível” portanto.

Se o Presidente “saiu pela tangente”, quando se referiu à CRISE, será que ele também fala sério, quando recomenda votarmos neste ou naquele candidato(a) ? Na duvida, é melhor tomar cuidado para não comprar uma “maquina de desentortar bananas”...

Paulo Mendes – Economista

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