Modelo em xeque.

A continuada queda do dólar em relação ao real, tem produzido uma sensação ilusória de “conforto” na economia, e serve como perigoso argumento ufanistico na propaganda oficial. Melhor seria, se a sociedade tivesse discernimento suficiente para avaliar as relações de causa e efeito decorrentes.

Já tivemos períodos anteriores de ufanismo similar, pautados em modelos econômicos que, ora modelados pela substituição de exportações, ora por ancoras cambiais, sustentaram situações temporárias, favoráveis nas aparências mas, que ocultavam vulnerabilidades não perceptíveis pelo publico em geral. Os resultados conhecidos, foram crises graves dos “modelos”, que tiveram esgotada sua eficácia temporária.

A economia brasileira, vem experimentando nos últimos períodos, três efeitos amargos: a deterioração nas transações correntes decorrente de queda no superávit da balança comercial e do aumento substancial das remessas de lucros e dividendos para o exterior; recrudescimento da taxa inflacionaria, contaminando diversos setores de atividades e, elevação da taxa básica de juros, com efeito multiplicador sobre o credito em geral. Este, o único e traumático remédio que resta ao BC, tradicionalmente, diante a perdulária vocação do governo, que insiste teimosamente em elevar os gastos públicos.

O mesmo governo, que também teima em jactar-se de onerosas reservas cambiais já ultrapassando o limite de US$ 200 bilhões, sem revelar que representam mera contrapartida do passivo externo em crescimento. Isto, porque o déficit em transações correntes, obviamente, vem sendo coberto pela ampliação dos investimentos estrangeiros, em menor escala no setor produtivo, e em escala ascendente, no mercado financeiro (capital especulativo).

A historia econômica revela que, a valorização cambial desmesurada e prolongada (real em relação ao dólar), afeta negativamente o setor produtivo do Pais, na medida em que, o setor industrial tende a abdicar da produção de bens intensivos em tecnologia e, amplia a produção de bens de consumo que concorrem com similares importáveis. Os reflexos negativos se dão em duas vertentes: de um lado, a pauta de exportações tende a concentrar-se em produtos primários que apresentam vantagens comparativas momentâneas (minérios, alimentos, etc.), e perde competitividade em relação a produtos de alta tecnologia; de outro, o mercado interno vê-se abarrotado de quinquilharias voltadas ao consumismo, financiado ao bel prazer de taxas de juros que fazem multiplicar os lucros de multinacionais (industrias e instituições financeiras) aqui instaladas. O que explica, de um lado, o aumento vertiginoso das remessas de lucros e dividendos e, de outro, a deterioração de nossa balança comercial, com a queda dos níveis de superávit.

Paralelamente, o governo realimenta o processo, com records seguidos de arrecadação; a carga tributaria insuportável, mantém o superávit primário elevado, como cartão de visitas para atração de novos investimentos especulativos. Evidencia-se a dubiedade de taxas de juros e cambial, alheias à economia real; mas, vitais para emoldurar o modelo atrativo dos capitais de alta rotatividade, predatórios por natureza.

Querem exemplos ? Pagamos pelo hamburguer mais caro do mundo; na origem, custa cerca de US$3,00; aqui, custa US$7,00. Circulamos por ai, em veículos pelos quais, pagamos US$27.500,00 (um modelo médio), que nos EUA, custariam cerca de US$18.000,00; abastecidos com uma das piores e mais caras gasolinas do mundo e, financiados a taxas de juros estratosféricas. Dá para entender, porque tantas multinacionais aqui se instalam, para captar as melhores remessas de lucros e dividendos ?

Se nossa moeda realmente fosse tão “forte” como se propala, pagaríamos US$4,00 por um kg de feijão, com salário mínimo que mal chega a US$260,00 ? – Paulo Mendes - Economista

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