A preservação de empresas, com punição dos corruptos e corruptores
Ninguém discute que a corrupção é como
um câncer que devasta, transforma Estado e suas funções em produtos postos à
venda no mercado das trocas ou negócios escusos e contamina os três poderes,
prejudicando o desenvolvimento país, aprofundando as desigualdades sociais e
afrontando à dignidade das pessoas, tendo como reflexo uma profunda crise moral
que afeta a todos os segmentos da sociedade civil organizada.
O advogado Walfrido Warde defende no
livro O espetáculo da corrupção - como
um sistema corrupto e o modo de combate-lo estão destruindo o país, que a
política punição se concentre nos
administradores corruptos e seus associados, mas preservando as empresas dos empregos e
protegendo seu patrimônio.
Para ele, que se soma aos críticos da
Operação Lava-Jato e dos seus desdobramentos, uma ação que arregimenta políticos,
empresários e um grande número de advogados, o combate adequado à corrupção tem
que atacar as causas e elas resumem-se, em grande medida, na falta de regulação
adequada do lobby, considerada fator
determinante para infiltração do crime organizado na estrutura do estado.
O
livro, não cita nomes, mas propõe soluções
para que se aperfeiçoe o combate à
corrupção no país: primeiro, com uma ampla reforma do modelo de financiamento
de campanhas eleitorais, seguido da promulgação de uma legislação que
discipline o lobby pós-eleitoral, com a formação de Frentes Parlamentares. Por
fim, num terceiro passo, sugere a criação de uma autarquia para planejar a
política nacional de combate à corrupção, propondo diretrizes visando o aprimoramento da legislação,
criando uma regulação de combate à corrupção.
Para Walfrido Warde, as empresas investigadas na Lava Jato, no
geral, foram obrigadas a cortar mais de 60% de seus postos diretos de trabalho:
“é certo que essa involução no efetivo
antecede e sucede a um desaquecimento em cascata da atividade empresarial, que
atinge outras empresas que dependem da empresa afetada.” Como crítico velado à
Lava Jato, ele questiona sobre “a que serve a execração, senão a um vazio e
contraproducente ímpeto de vingança”.
O autor lembra que a Camargo Correia
demitiu 12.500 trabalhadores. A Andrade Gutierrez, outros 90.000 e a UTC, deu
bilhete azul a mais 20.325 trabalhadores. O maior tombo ficou para a Odebrecht, com a queda de 95.000 mil postos de trabalho, enquanto a
Queiróz Galvão, demitiu 13.000 empregados
e OAS 80.000. A lista é acrescida pela a
Engevix, com 17.000 demissões, pela EAS,
com 3.500 e Promom, que despediu 380, ou
seja, metade dos seus 760 empregados.
Warde cita que, enquanto isso ocorreu no
Brasil, a Skanska, uma multinacional
estrangeira envolvida na Lava Jato por superfaturar manutenção de plataformas
da Petrobras, vencia uma licitação internacional
para realizar obras de conservação no
Hyde Park, em Londres.
Como alternativa, ele acha que o mercado
brasileiro de infraestrutura não será reorganizado tão cedo, assim empreiteiras
da Lava Jato não serão de súbito
substituídas por colossos empresariais estrangeiros, consideradas ironicamente no
livro como “exemplo de honestidade e de
eficiência, simplesmente porque não é possível sanear, senão no longo do prazo,
o profundo desarranjo na estrutura jurídica.”
Em seu libelo de 142 páginas, Warde
observa ainda, que a empresa que mais
perdeu valor com a corrupção foi a Petrobras que perdeu quase 440 bilhões do valor que o mercado lhe atribuia no período que antecedeu
Lava Jato, vandalizada por administradores e fornecedores delinquentes,
o que lhe custou em termos financeiros uma perda de R$ 6 bilhões decorrentes da
pilhagem a que foi submetida.
Esta história, guardadas
as devidas proporções e metáforas compatíveis, se assemelha ao caso do marido
que encontra a mulher com outro cara no sofá e adota uma medida drástica: fica
com a mulher e ganha, se capitalizando,com a venda do indigitado sofá, dando um
basta caseiro na impunidade. (Kleber Torres)
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