Favela Brasil.

Há talvez uns dois anos, assistimos pela TV, o funeral de um líder do trafico de drogas, que liderava a comunidade de uma das favelas cariocas. A reverencia, as manifestações, deixaram transparecer uma comunidade, que cultuava o líder, apesar de seu histórico de crimes. Comenta-se que esses lideres acabam sendo responsáveis por uma espécie de “governo paralelo”, nas comunidades onde vivem e atuam, convertendo-se em “protetores” daquele povo. Pouco tempo depois, assistimos outro episodio, no qual a comunidade manifestava-se de forma violenta, porque um dos lideres de facção criminosa, fora encurralado e preso.
Infelizmente, estes fatos tem se tornado comuns nos últimos tempos. As pessoas, parecem ter-se submetido a uma verdadeira mutação alienígena, distanciando-se da lógica racional de comportamentos. Prevalece nesses casos, uma escala anormal de valores, na qual, os indivíduos parecem surdos, mudos e analfabetos em relação a princípios de conduta, moral, cidadania. As normas da sociedade civilizada e organizada, subvertem-se a ditames propalados pelos “gurus”, dando lugar a uma nova escala de valores, alheios aos princípios da ética, da religião, da moral. Os códigos de conduta, o Direito positivado, a Constituição, soçobram ao peso e exemplos de praticas abusivas, deletérias e criminosas, como se fossem comuns e toleráveis, sem qualquer resistência ou indignação manifesta.
Vêem-se talvez movidos por instintos primitivos, onde a lei dos mais fortes impera, abdicando da racionalidade que em tese, deveria nortear seus comportamentos. Daí, o caos que enevoa o que seria “política ou socialmente correto”. As diretrizes ou caminhos a seguir, tornam-se tortuosos, não identificáveis ou perceptíveis, porque, não há uma base principiologica ou ideológica a lhes prestar fundamento lógico e racional. O “modelo” de organização, cede lugar a iniciativas pautadas por livres arbítrios, e a distinção entre o “certo” e o “errado”, perde-se na obscuridade de objetivos e motivações.
Rui Barbosa, na sua inquestionável inteligência dos males que afligiam a sociedade, já propalava: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. Sabias palavras, que em tese, explicam o comportamento coletivo de pessoas na inercia, no descaso, na falta de reações ativas e contundentes, contra praticas absurdas e ilegais, como se fossem naturais ao seu cotidiano.
Vejo o Brasil do momento, como uma imensa favela, de surdos, cegos e analfabetos, que nada ouvem, nada enxergam e aparentam não ter discernimento para compreender a gravidade e inconsequência de fatos, a se repetir com frequência cada vez maior e estão a demonstrar a queda vertiginosa de valores em nossa sociedade.
No mais alto escalão do governo, explodem numa seqüência e gravidade sem precedentes, escândalos de toda ordem e trafico de influencias maleficas, que simplesmente, não escandalizam ninguém, não provocam a menor indignação, não incomodam a quem quer que seja, à exceção, de uns poucos que ainda conservam e nutrem um mínimo de senso critico. Por isso, são taxados de “inimigos do povo”, “inimigos do Brasil”, “inimigos das mulheres”, ou de quem quer que seja... Tornam-se alvo de piadas, metáforas indigestas, contidas num malabarismo verbal ilusionista e abstrato, a esconder a desfaçatez e leniência, de quem deveria preservar os valores morais nesta Nação. O mesmo Rui Barbosa, em suas celebres preleções, também advertia: “Um povo cuja fé se petrificou, é um povo cuja liberdade se perdeu”. E noutra oportunidade: “No culto dos grandes homens não pode entrar a adulação”. Se vivo fosse, certamente estaria a repetir, talvez para uma platéia de iludidos e desesperançados, as mesmas palavras de antanho, diante o torpor e a submissão, que chega às raias da adulação, em relação a seu líder político majoritário. A esperança, é que no futuro, a historia poderá ser revisitada, e ainda que tarde, poderemos rever nossos conceitos.

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