Uma guerra não convencional

Desde quando Caim matou Abel, segundo uma das versões das origens dos seres humanos na terra, foi inaugurada uma triste historia de conflitos entre humanos. Ao longo dos séculos e milênios, os seres humanos desenvolveram armas, artefatos, maquinas, estratégias, exércitos, enfim, toda uma parafernália destinada ao desenvolvimento de guerras de toda ordem e por motivações que variaram desde razões econômicas, religiosas, políticas, étnicas, ate motivações passionais, como teria sido a inspiração para a trágica Guerra de Tróia.

Tornaram-se celebres os tratados sobre a arte ou ciência da guerra, o desenvolvimento de estratégias cada vez mais astuciosas, e a cumplicidade da ciência e da tecnologia, no desenvolvimento de armas de destruição e defesa, que culminaram com os terríveis artefatos nucleares, capazes de exterminar o planeta em questão de umas poucas horas.

Generais como o franco suíço: Antoine Henri Jomini e o prussiano: Carl von Clausewitz, ganharam notoriedade, e se tornaram mentores de escolas de pensamento e formação, na arte de dizimar adversários ou defender territórios. “A guerra é, portanto, um ato de força para obrigar o nosso inimigo a fazer a nossa vontade (CLAUSEWITZ, 1984, p. 75)”.

Nesse campo dos conflitos humanos, a tecnologia e a ciência, avançaram a ponto de, a partir de algumas décadas recentes, já não se admite uma guerra total entre as maiores potencias bélicas do mundo, sob pena de configurar-se a destruição total dos contendores, o que superaria o paradigma de Clausewitz – não haveriam vencedores para impor vontades aos vencidos.

Embora a humanidade tenha desenvolvido capacidades imensuráveis de destruição dos seus “adversarios” nas guerras convencionais, clássicas ou modernas, todo o conhecimento adquirido, os recursos humanos e técnicos disponíveis, tem se mostrado ineficazes, quando se trata da defesa contra os fenômenos naturais, as intempéries, que nos anos recentes, passaram a representar a ameaça maior.

Terremotos, tsunamis, chuvas torrenciais, maremotos, raios, tornados e tufões, nevascas, secas prolongadas, e oscilações bruscas na temperatura ambiente, tornaram-se os “inimigos” imprevisíveis e desconhecidos, que passaram a afetar a vida humana nas áreas rurais e nas cidades.

A natureza, parece estar reagindo à vaidade humana, que jactava-se do seu poder de destruição, capaz de submeter os maiores adversários. Diante as novas ameaças, cada vez mais freqüentes e devastadoras, o homem moderno, supostamente “todo poderoso”, mesmo dotado de artefatos e técnicas avançadas para exercer formas “humanas” de domínio, vê-se impotente diante as ocorrências devastadoras da natureza, face ao seu modo de relacionar-se com ela, no processo de produção e reprodução dos espaços geográficos.

A questão crucial do momento, é que não podemos “enfrentar” estas ameaças, como se estivéssemos diante um “inimigo”, como nas formas convencionais de guerras, em que a destruição do inimigo, é o paradigma inseparável da vitória. A natureza não é um inimigo; a natureza esta no homem e este, esta na natureza, porque o ser humano é produto da evolução natural e a preservação da natureza é uma condição essencial da existência humana.

A “guerra” contra as ocorrências naturais, requer estratégias pautadas num paradigma inverso: a preservação e conservação dos recursos naturais – ou seja, o suposto “inimigo”, há de ser defendido, como condição de sobrevivência e equilibrio. Daí porque, a sociedade atual, prescinde de toda uma reformulação de conceitos, para enfrentar estas e novas “batalhas” que se avizinham. – Paulo Mendes – Economista.

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