Há controversias...

Terminou esta semana no senado, com aprovação muito questionada, uma longa discussão sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul, que se estendia desde 2007.

Acompanhei alguns dos últimos debates sobre a questão, centrados ora, na importância econômica da Venezuela em relação ao bloco, ora na figura do seu dirigente Hugo Chavez.

Entendo que, embora controvertida politicamente, a pessoa do atual dirigente venezuelano, não deveria ser o centro das atenções e preocupações dos debatedores. Porque, quando se questiona a participação de um Estado no contexto de um bloco econômico, no caso, Hugo Chavez, não é o Estado da Venezuela, nem o Estado da Venezuela deve ser confundido com as trapalhadas e maquinações de Hugo Chavez. Nesse sentido, caberia estabelecer o flagrante contraste, entre a historia de uma Nação, suas potencialidades econômicas, sua importância política, demográfica e estratégica, como mais um elo importante na corrente que se pretende edificar em bloco, para representar os interesses maiores de um continente.

Vejam o exemplo da Comunidade Econômica Européia, certamente o bloco econômico mais evoluído e consistente da atualidade. Nasceu de diversidades de toda ordem, ideológicas, históricas, políticas, econômicas, religiosas, etnicas, militares, etc. Superadas e sanadas, ao longo da maturação do processo de consolidação daquele conjunto de Nações, com interesses comuns; foi complexo e passou por fases difíceis, algumas divergências pareciam insuperaveis. Hoje, exibem ao mundo, ate uma moeda comum, o euro, que se consolida como padrão alternativo nas relações comerciais com o resto do mundo.

As flexibilidades postas em pratica pelo bloco europeu, permitiram ate a agregação paulatina de antigos rivais do leste, outrora alinhados ao extinto Pacto de Varsóvia. Numa demonstração cabal que, quando se tem objetivos comuns maiores, as questões menores se esvaem com o tempo, e nada no âmbito das relações internacionais é eterno.

Nem mesmo, projetos hegemônicos de dominação e expansão, ou sonhos de grandeza e perpetuidade de alguns ditadores de ocasião. A antiga União Soviética, por exemplo, berço dos supostos “regimes proletários”, embarricada numa outrora intransponível cortina de ferro, dissolveu-se, ruiu como um castelo de cartas, exatamente porque não resistiu aos contrastes com Nações vizinhas embaladas pelos ventos liberalizantes da democracia e da globalização.

É evidente que, ao somarmos os pros e contra o ingresso da Venezuela no Mercosul, restam legitimas preocupações com o desvairado comportamento de seu dirigente atual, que certamente, buscou articulações de toda ordem, visando integrar o bloco, talvez com intenções “politicamente incorretas”. Mas, por outro lado, havemos de considerar que, a adesão a um “contrato internacional” – normas que regem a participação multilateral dos Estados membros – implica direitos e deveres. Qualquer Estado que venha a integrar um grupo de Estados, submete-se automaticamente a estas regras de boa convivência e, o desrespeito a tais normas, pode resultar em sanções ou ate o afastamento.

Sob esse aspecto, espera-se que os demais dirigentes das Nações que integram o Mercosul, tenham a necessária dimensão dos problemas que poderão surgir e, estejam dispostos a agir com sabedoria e energia, no sentido de evitar eventuais contratempos. No âmbito das relações entre Nações, não há espaço apenas para “confraternizações”, mas também, para enfrentar desafios, mergulhar fundo nos problemas comuns, e emergir com soluções saudáveis.

Paulo Mendes – Economista.

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