Historia e bastidores

A historia do Brasil esta recheada de episódios, que apresentam versões diferentes, seja em função da fonte relatora influenciada por fatores ideológicos, políticos ou ate interesses outros, seja em decorrência do passar do tempo, que faz emergir documentos e novos fatos.

Poderíamos citar a titulo de exemplo: o descobrimento, retratado em muitos livros didáticos, numa versão “romântica ou épica”, como decorrente de uma “calmaria”. Hoje, conhecendo melhor o ambiente da época, as disputas políticas e economicas entre as nações que dominavam o periodo das grandes navegações, sabemos tratar-se de um empreendimento elaborado e planejado, com fins específicos de localização e ocupação de territórios desconhecidos. Ou alguém ainda acredita que, Cristóvão Colombo (pela Espanha) e Cabral (por Portugal), com diferença de poucos anos, chegaram às Bahamas, Golfo do Mexico e Porto Seguro, “por mero acaso”?

Mais adiante, vamos encontrar versões “românticas” e realistas, das capitanias hereditárias, das bandeiras, inconfidência mineira, ate a tão propalada independência, a abolição da escravatura e a proclamação da republica, que tiveram nos seus bastidores, um encadeamento de fatos, que sepultaram de vez, as fantasiosas “estórias” contadas por autores voltados a meros registros transmitidos a estudantes dos primeiros passos nas escolas. Figuras de destaque, protagonistas destes episódios, aparecem ora como heróis, ora como verdadeiros vilões.

Nos tempos modernos, a exemplo, temos dois episódios interessantes, complexos e ate certo ponto indecifráveis, face às nebulosas versões que os acobertam ate então: No primeiro, destacou-se a figura do então Presidente Jânio Quadros, eleito com votação estrondosa, e portando a vassoura, como símbolo da “varredura” que pretendia aplicar para eliminar a corrupção e os desmandos políticos. Jânio, foi um personagem populista, controvertido, usuário de linguajar retórico erudito, mas que surpreendia seus pares, o publico e a mídia, com “bilhetinhos” e atos inusitados de proibição de brigas de galo, ate biquínis nas praias, ou condecoração do Che Guevara.

Atos e preleções considerados excêntricos, mas suportados por uma popularidade sem par. Ate, que fomos surpreendidos pela renuncia, motivada por supostas “forças ocultas”, não compreendidas pela massa, pela mídia, pelos políticos. Afinal, por que um dirigente tão popular, com seu patrimônio eleitoral, deixou-se curvar ante o submundo do incomensurável? Segredos ainda a desvendar.

Segredos de bastidores, tão insondáveis, quanto os que hoje empanam o brilho do atual governante: ontem, portador de bandeiras moralizantes, dotado de legendário patrimônio eleitoral, alçado aos píncaros da popularidade, usuário de linguajar controvertido e ardiloso, capaz de atos que também beiram a excentricidade, suportados e digeridos como marca popularesca.

Capaz de desafiar as raias da lógica de avaliações, mas, à medida em que se aproxima do final da missão, curvado ante a seqüência de conchavos políticos tenebrosos e rendido a circunstancias de apoiar figuras que se apresentam com performances deletérias inquestionáveis. A ponto de tratar desafetos de outrora, como pessoas especiais “não comuns” ou brandir ante a justiça e a mídia, “biografias imunizantes”, como se a historia, não tivesse suas versões cabulosas e o tempo se limitasse a um projeto de poder especifico, que despreza a sensatez e os julgamentos futuros.

Constrói-se a historia, com atos sublimes, construtivos ou ate heróicos; mas também, constrói-se a historia, com a vileza, artimanhas e segredos capciosos.

O atual Presidente, ao que demonstra, parece ter feito uma escolha: misturar as coisas, como alternativa de confundir os fatos. Herói ou vilão, o amanha decifrara?

– Paulo Mendes – Economista.

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