O paradoxo político

A cada nova crise que afeta o mundo econômico, ressurgem as idéias simplórias e sonhos da esquerda mais radical, de que o capitalismo, o pensamento político pautado na filosofia antiestatizante, voltada para os mercados e, mais presentemente, as idéias neo-liberais, estariam fadadas ao naufrágio inapelável, sepultando-se de vez, quaisquer perspectivas de recuperação.

Não foi diferente no limiar da atual crise que teve como epicentro, mercados financeiros de nações economicamente desenvolvidas e poderosas. Aqui e acolá, verberações ideológicas e manifestações utópicas, chegaram a celebrar réquiens à suposta derrocada, antes mesmo que os limites da crise fossem clara, qualitativa e quantitativamente delineados.

No ambiente de incertezas que abalou a credibilidade dos agentes econômicos e do publico na dinâmica dos mercados, provocou a débâcle de meia dúzia de instituições financeiras seculares e, submeteu a situações vexatórias emblemáticos símbolos do segmento produtivo, poder-se-ia vislumbrar, o terreno fértil para a retomada de idéias revanchistas. A esquerda mais radical, a menos radical e ate os militantes desprovidos de suas bandeiras ativistas, ainda não se refizeram do abalo sísmico que derrubou o muro de Berlim, a estatua de Lênin na URSS e outros tantos símbolos, de um modelo que aparentemente vicejou no Leste Europeu e espraiou seus sintomas e influencias a outros horizontes do mundo. A ocasião, equivocadamente, se mostrou propicia, aos reclames por uma nova ordem, que na pratica, nada de novo trazia, senão velhos bordões e slogans de passeatas dos anos 60 e 70.

Em contraponto à onda saudosista, o eleitorado dos 27 paises membros da União Européia, na eleição dos representantes do Parlamento Regional, sepultaram com humilhante derrota no ultimo domingo (07/06), fantasiosas lucubrações da centro-esquerda européia. Um fato, que surpreende pela dimensão política, principalmente, considerando-se que atingiu também, paises como a Hungria, Polônia e Republica Checa, ate recentemente, submetidos aos ditames da “economia planificada”.

O resultado demonstra o desapreço das populações européias, pela esquerda e suas proposições ideológicas, como alternativa para superar a atual crise. E reacende sentimentos nacionalistas, depositando maior confiança no ideário direitista e de centro-direita, como solução mais confiável, apesar do ambiente econômico desfavorável.

Em verdade, a recente maior aproximação entre povos de latitudes outrora distantes ideologicamente, levou a conhecer melhor as limitações e sofrimentos herdados pelo Leste Europeu, enquanto submetido às ditatoriais burocracias estatais. Lá, o fracasso econômico, relegou ao atraso no desenvolvimento nações outrora alinhadas ao perfil de “economias planificadas”, onde o Estado, aparelhado por elites militares e ideólogos embotados, subliminou e sufocou a epopéia ilusória da ditadura do proletariado. O realinhamento recente, à União Européia e outros blocos econômicos e politicos, pos derrocada da URSS, conduziu estas nações a vislumbrar novos caminhos, pautados na tão vilipendiada “dinâmica dos mercados”.

O paradoxo político naquelas paragens do mundo econômico, em grande parte, pode ser entendido, porque nas nações européias, a esquerda quando no poder eventualmente, sempre reprisou políticas copiadas da direita, como alternativa para obter resultados mais positivos.

Uma situação, que não difere muito, do que se observa no Brasil atual. Ate as resistências localizadas à direita e à esquerda, no que tange à promoção de reformas estruturais mais amplas, como a tributaria, a política, a trabalhista, e a monetária, que mofam nas gavetas, segue o exemplo da falta de agendas e comprometimento mais decisivo e arrojado. – Paulo Mendes – Economista.

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