Nem crise, nem doença, nem...

Os cenários político e econômico do Brasil, que aparentavam relativa calmaria, de repente, tornaram-se envoltos em turbulências, mais precisamente em razão de posturas equivocadas e estranhas adotadas pelos nossos dirigentes.

Num primeiro momento, deflagrou-se no ambiente internacional uma grave crise econômica, de dimensões ainda imprevisíveis. Nossos mandatários, optaram pela dissimulação equivocada, ao sugerir que a crise não afetaria nosso Pais. Deu no que estamos acompanhando nos últimos meses, com o declínio do ritmo de crescimento e conseqüências que afetaram ate então, segmentos da economia mais vulneráveis e espraia-se sob a forma de verdadeiro suplicio, para a União, Estados e Municípios, às voltas com perdas substanciais de receitas.

Num episodio seguinte, a lamentável doença que afeta a possível candidata do Presidente à sua sucessão, também negada e dissimulada a principio, mas que já deu sinais de incomodo às pretensões para 2.010. A situação, antes equilibrada e aparentemente definida, mergulhou no terreno imponderável dos diagnósticos e especulações, a ponto de esgarçar ânimos no ambiente político, tanto de oposição, quanto nas supostas bases aliadas. Numa versão extrema, voltou-se a cogitar do casuístico terceiro mandato.

O Presidente tem se manifestado ambíguo em relação a essa hipótese. Embora vez por outra afirme “não ter terceiro mandato”, a seqüência de posturas: “nem crise, nem doença, nem terceiro mandato”, dão lugar à especulação sobre a credibilidade de cada sinalização. Vai seguir a lógica do “falso, falso, falso” ou vai inovar com um “falso, falso, verdadeiro” ?

Pelo sim pelo não, o governo disparou nos últimos dias, uma campanha de revitalização de imagem. A TV e jornais, estampam a todo momento, qualquer indicador positivo. Verdadeira pirotecnia de marketing, foi montada para divulgação do estagio atual do famigerado “PAC”. Na linguagem oficial, os dados transmitem a impressão que o Brasil era apenas um “gigante adormecido”, desde quando as naus de Cabral aportaram em Porto Seguro. Nos últimos dois anos e meio, à exceção de “Brasília e mais umas poucas obras”, tudo de novo foi edificado, esta concluído ou em fase de conclusão.

O site “Contas Abertas”, contesta veementemente este cenário, com números de fontes oficiais e, denuncia que mais de 8.000 projetos, foram escamoteados do PAC original, para engordar indicadores de desempenho. E mais: dezenas de projetos e programas, simplesmente não saíram do terreno das idéias e papeis e os magros recursos canalizados, não atingem 8% do previsto. Pela seqüência de “afirmações oficiais” anteriormente abordadas, em quem confiar ?

Já afirmei neste espaço que, o PAC como acelerador do crescimento, morreu. Que o digam os esperançosos produtores de cacau da região, ate então, mitigados com meras prorrogações de prazos, empurrando-se com a barriga, o “X” da questão. Melhor seria a reformulação do programa, contemplando áreas mais incisivas e vulneráveis da nossa economia e realidade social. A exemplos, a educação, saúde e segurança publicas, pilares de uma sociedade que pretende se modernizar e tornar-se competitiva.

Nestas três áreas, o governo continua omisso e inoperante. O caos esta sendo agravado com cortes de recursos e, o atraso inexplicável na tomada de decisões e providencias, às vezes emergenciais. E os indicadores e noticias da realidade cotidiana, são lamentáveis. Não há sinais de reversão saudável a curto prazo.

Enquanto isso, o Pais caminha a passos largos para um temerário período de transição, entre um final de mandato que prometia nossa redenção, e hipóteses traumáticas de uma campanha talvez pautada pelo mergulho na escuridão das soluções casuísticas.

Paulo Mendes – Economista.

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