Politicas agricolas

O sujeito tinha lá sua fazendinha de umas 200 ha, em uma região muito valorizada, onde criava umas trezentas cabeças de gado, o suficiente para levar uma vida regrada, mas equilibrada.

Um dia, ouviu um discurso do Presidente, anunciando que “a mamona seria a redenção do semi árido”, a nova solução em bio combustíveis. Acreditou na oportunidade e logo resolveu vender sua propriedade, porteira fechada. Com os recursos obtidos, comprou lá nos confins do semi árido, uma ampla área de uns 3.000ha, onde pretendia implantar o cultivo da tão propalada mamona.

Começou verdadeira “via crucis”, junto a um banco oficial. Inicialmente, contratou um escritório para elaborar o projeto. Depois, começou a reunir documentos de toda ordem, um papelório interminável, até que um belo dia, já decorridos uns cinco meses, dirigiu-se ao banco, para finalmente iniciar a contratação do financiamento.

Despejou na mesa do gerente, toda a tralha exigida: projeto pronto, cronograma de aplicações, estudo de viabilidade, identidade, cpf, certidão de casamento, certidão de batismo, certidões dos filhos, comprovante de residência, extrato bancário, carteira de motorista, certificado de reservista, titulo de eleitor, escritura e registro da nova propriedade, planta topográfica, mapeamento por GPS, certidões negativas de INCRA, RF, IBAMA, INSS, cartórios, SPC, Telecheque e o escambau. Para não perder a viagem, levou logo um atestado de vacinação contra rubéola, uma fotografia dele no domingão do Faustão, uma camisa da seleção autografada depois do jogo contra a seleção de Portugal, e até uma dessas novas raquetes para matar muriçocas e mosquito da dengue. Avisou ao gerente que poderia conseguir, até um atestado de óbito, se necessário fosse! Estava tudo legalizado, e convencido que não faltava mais absolutamente nada...

O gerente programou novo contato para daí a umas três semanas, porque vários departamentos na instituição, precisariam “analisar toda aquela tralha”. Umas duas prorrogações de datas depois, finalmente foi atendido e aconteceu este dialogo:

-O Gerente: “O senhor assistiu o Fantástico no domingo?”

-O cliente: “Como meu amigo ! Estou morando no novo “latifundio”, onde nem tem energia elétrica. Ate já comprei umas baterias solares a credito, para iluminar a casinha e, a mulher ver as novelas, porque lá, nem tem vizinhança !”

-O Gerente: “Sinto muito. Mas, o Ministro, anunciou que agora, devemos financiar plantações de cana, para produzir álcool, que vai ser misturado com a gasolina que vão fabricar com o petróleo do pré-sal.”

-O cliente: “E agora, o que vou fazer com as terras da mamona?”

-O Gerente: “Quer um conselho? Procure torna-las produtivas, para o INCRA não julgar improdutivas e destinar à reforma agrária.”

-O cliente: (já desesperado) – “Não tem como, meu Deus do céu; já estou quase na miséria, e nem o INCRA vai querer comprar aquelas terras, porque nenhum sem terra vai ser besta de querer ir para um fim de mundo daqueles !”

-O Gerente: O problema agora é seu. Eu não vi nada, não ouvi nada, estou inocente..., e o senhor ainda tem chance de se cadastrar no “Bolsa Familia”...

Fim da historia: Dizem que o sujeito, agora é freqüentador da “turma da meota”; a filha, faz a vida na BR 101; e a mulher, que ainda era jovem, conseguiu um “aconchego” e agora, é “teuda e manteuda” de um politico recém eleito...

A ficção, pode parecer absurda; mas, com as “políticas agrícolas” de palanque que anunciam a cada dia, ninguém pode duvidar...

Paulo Mendes – Economista.

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