Hipocrisia com desgraça alheia.




Mais uma vez assistimos o desfilar de comitiva, com presidente, governador, ministros, quebra facas, com cara de velório, visitando vitimas e estragos de mais uma tragédia que atinge a população brasileira.

No triste caso de Santa Catarina, já se foram mais de cem vitimas, outras cerca de 55.000 estão desabrigadas, algumas em estado desesperador, além de montanhas de entulhos, que ilustram prejuízos materiais incalculáveis.

As explicações vão desde a já surrada tese do “aquecimento global” que está provocando mudanças climáticas radicais – e ai o bode expiatório seria a natureza, única e mais conveniente responsável - até, a mais obvia e concreta: a hipocrisia dos “caras de velório”, que não cumprem o dever publico e administrativo, de realizar obras e promover ações preventivas para evitar novas tragédias.

O site “Contas Abertas”, divulgou dados incontestáveis esta semana: O governo federal tem um “programa” de prevenção e preparação para prevenir emergências em áreas criticas, com recursos orçados da ordem de R$375,9 milhões, para o exercício de 2.008. Deste montante, apenas R$97,8 milhões foram gastos, incluindo-se restos a pagar de anos anteriores, até o dia 21/10, ou seja, apenas 26% dos recursos foram mobilizados. Portanto, havia verbas, e supõe-se diagnostico e projetos a realizar; se não o foram, somente a desídia e a irresponsabilidade administrativa explicam.

Há também no orçamento, outra rubrica destinada a “programas de resposta aos desastres”, com recursos da ordem de R$538 milhões. Destes, cerca de R$260 milhões já foram gastos, equivalendo a quase 50% do total. Ou seja: é prioritário, e a opção é, esperar a desgraça acontecer, para “despejar” recursos, à luz das câmeras... Dói mais, o povo sofre, mas dá mais IBOPE, distribuir “socorro” às vitimas em meio a palavras de comoção, do que cumprir o trivial, de realizar obras preventivas, tais como, barragens de contenção, tratamento de encostas, esgotamento de águas pluviais, etc.

A imagem da entrega de um cobertor, a uma criança desabrigada tiritando de frio, ou uma garrafa de água mineral a um desgraçado que perdeu o barraco no deslizamento de uma encosta, converte-se em material publicitário; os vis “marketeiros”, a preferem, à foto de uma manilha enterrada, para escoamento da água que poderia evitar uma inundação.

Ate quando assistiremos aos nossos governantes promovendo-se impunemente, com a desgraça alheia? As áreas criticas estão por ai, à mostra; os problemas de saneamento básico e edificações preventivas, são por demais conhecidos; há soluções técnicas para eliminar ou minimizar estes problemas. Por que não estão sendo executadas a tempo ? Talvez, porque as verbas de socorro às tragédias, são emergenciais, a “fundo perdido”, não passam pelos crivos fiscalizatorios e de controle, por isso, são em maior volume que as preventivas. Está explicado.

No Brasil, a tragédia parece mais lucrativa e mais popular. Tem sido assim com as estradas mal conservadas, o transito caótico, a segurança desestruturada, a educação caindo de nivel, a saúde definhando. Entregar diplomas de qualificação escolar, assinar carteiras de trabalho ou liberar um doente bem curado de um hospital, são meras formalidades, cerimônias enfadonhas.

O “bom” mesmo, o “vibrante”, é entregar um colchonete para um desabrigado, uma lata de leite a uma criança faminta, entrevistar uma vitima de bala perdida, ou anunciar que a família do ultimo morto na fila do INSS, decidiu doar órgãos. Distribuir bolsa família, então... Isto, elege até Presidente !

Paulo Mendes – Economista.

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