Estado catatônico

Admite-se o êxtase provocado por uma popularidade de 77%. Pode-se até compreender o estar embevecido, por conta de reservas cambiais da ordem de US$200 bilhões. Mas não dá para entender essa “fuga da realidade”, diante uma grave crise global, que já atingiu o Brasil, e cujos sintomas já se refletem sob formas diversas.

Muito menos, aceitar que, enquanto a bolsa desabava seguidamente, 5%, 7%, 9%, o dólar dispara mais de 30% até as vésperas da eleição, enquanto o nosso Presidente, dedicava-se “de corpo e alma”, num comício em São Bernardo do Campo (interior paulista), a pedir votos para seu candidato, “porque iria morar naquela cidade, depois que deixar o Planalto”...

Convenhamos, esta não é a real postura de um estadista que se espera nestas horas, para demonstrar à sociedade, o vigor e competencia para agir diante as ameaças que pairam sobre nossa economia; o que diga-se a bem da verdade, também está faltando noutras nações importantes, que se encontram no olho do furacão, e por isso, a crise em si, se torna exponencial, tendo como multiplicador a baixa confiabilidade, fator indispensável à acomodação dos mercados efervescentes.

Seria por que a postura de “ex-tadinho” – imigrante pobre, operário de macacão, líder sindical, sem diploma, lhe conferem e asseguram melhor popularidade ? Esta seria uma hipotese grave, porque fundamentada no individualismo extremo, insuflado pelo marketing de varejo.

Já vivemos situações similares num passado recente, quando no auge dos beneplácitos do plano cruzado, um partido “estourou a boca do balão” nas eleições e, poucos dias depois, a economia do Pais entrava em processo de “estrambelhamento”, a ponto de ressuscitar o calvário inflacionario. Vieram outros fenômenos ilusionistas, que “disparariam um só tiro”, para domar a inflação; deu num impeachment vergonhoso. Não devemos esquecer também, o episodio dos US$86 bilhões de reservas, que viraram pó em menos de uma semana, na crise do plano real.

Nestes episódios, os protagonistas do Planalto, também gargalhavam popularidades elevadas. Mas se mostraram “catatônicos”, inertes, lesos, quanto à agilidade para corrigir distorções.

Analistas de alto coturno, empresários importantes, mostram-se preocupados com a catatonia do protagonista do Planalto no momento, sibilinamente disfarçada, com a transferência da “batata quente”, para os “porta vozes” da Fazenda e do BC – que a bem da verdade, em nada se parecem com papagaios de pirata, porque sequer, conseguem disfarçar o transe e o trauma. Basta observar as fotos do Presidente do BC na Internet – retratos da gravidade. A não ser, que tenha esquecido de tomar um sonrisal após o almoço; que bom seria se fosse apenas uma forte azia e o Ministro fosse realmente um “gago” !

O nosso Presidente, precisa despertar desse estado, e tomar as rédeas, o comando, a linha de frente das ações. Alguém precisa segredar-lhe que o “bolsa família”, não resolve problemas de instituições e empresas gigantes. E, que não dá para esperar pelo “dinheiro do pré-sal”.

É preciso falar a verdade e esclarecer à população, que as medidas até então adotadas, têm alcance limitado – liberação parcial do compulsório, injeção de liquidez no sistema, disponibilização do BC para compra de créditos, etc. Outros passos firmes são esperados. Indiscutivelmente, a economia brasileira dispõe de recursos técnicos, financeiros e estatisticas favoráveis, mas não dá para cochilar no cinema, enquanto o capitão Rhett Butler beija a Scarlett O’Hara, e o vento vai levando nossas reservas...

Paulo Mendes - Economista

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