Dizendo bom dia a cavalo

O presidente do BC brasileiro, estrilou, em recente palestra a investidores, proferida em Miami: “Paremos de fazer piadas a respeito. É uma situação muito, muito seria.” Para bons entendedores, a mensagem tem endereço certo: a cupula do Planalto, em Brasilia.

De “uma crise do Bush”, a um efeito “apenas imperceptível”, ou “simples marola”, a fanfarronice palaciana, acumpliciada pelo Ministro da Fazenda, oscilou, entre a gabolice e a irresponsabilidade. Faltaram ética inerente aos cargos e responsabilidade administrativa, no trato de uma questão, que se revelou muito seria, aos primeiros sinais de deterioração. Nosso presidente do BC, por seu turno, com a experiência de longos anos atuando no mercado bancário, postou-se desde os primeiros momentos, numa verdadeira trincheira de combate à deterioração cambial, sinalizando, até mesmo através expressões faciais estampadas na mídia, o grau de complexidade dos problemas enfrentados.

Ficou patente a divisão conceitual da crise e de posturas, quando o BC já atuava de forma mais contundente, injetando liquidez no mercado e, o mandatário do Planalto, na África do Sul, ainda insistia na gabolice, ameaçando “retomar dos bancos o dinheiro disponibilizado”. A consequencia: no dia seguinte, a bolsa desabou mais de 14% e o dolar explodia alta da ordem de 8%. Numa crise, onde os tão propalados “fundamentos econômicos” eram mandados às favas e só restava a confiabilidade nas autoridades dirigentes dos negócios da Nação como única tabua de salvação, metáforas, gabolices e irresponsabilidade, atuavam como gasolina jogada na fogueira. Duas MPs, três resoluções do CMN, possível estatização de bancos, seguradoras e construtoras, liberação de bilhões do compulsório, desmentiram o ridículo palaciano.

Num momento critico, não devem prevalecer conjecturas teóricas, mas a efetividade e rapidez das ações, ainda que tecnicamente questionáveis. Seria como diante um doente na UTI, alguém questionar se a injeção vai doer ou se o choque elétrico vai ocasionar alguma queimadura, enquanto acontece uma fibrilação cardíaca – alguns poucos segundos, são a diferença, entre a possível recuperação do paciente, ou sua perda.

As dimensões da crise deflagrada na fatídica quinta-feira, 24/10/1.929, setenta e nove anos depois, ainda assombram os mercados e, respondem por grande parte do “pânico irracional” que afeta investidores e autoridades monetárias. Naquela época, dentre os fatores que convergiram para potencializa-la, a lentidão dos BCs, e a falta de sistemas de comunicação eficazes e instantâneos, foram responsáveis por um custo planetário incalculável. Hoje, a modernidade da comunicação e ações instantâneas dos BCs, tem sido o fator de amenização dos efeitos sobre a economia real, ao menos, por hora.

Mas, justamente porque a comunicação multilateral, entre autoridades, banqueiros, investidores, empresários, mídia e o publico, tem sido crucial e determinante das ações e reações, ela não pode ser praticada, como se o interlocutor maior palaciano, estivesse num boteco de esquina, contando estórias de pescador.

“Quem conversa demais, acaba dando bom dia a cavalo” – repete a sabedoria popular. Pena que não temos um “rei da Espanha” como assessor no Planalto. Talvez a essa altura, o nosso mercado estivesse menos volátil. Mas, a frase do presidente do BC brasileiro, é emblemática: até para os maus entendedores as palavras foram de uma inteireza sem par.

Se vão surtir efeitos, só o tempo dirá. Certo é, que já estamos pagando um custo muito alto por algo “apenas insignificante; e a marola, está afogando gigantes do mercado. Pelo sim pelo não, à falta de algo confiável para dizer, um refletido silencio, seria ao menos, uma atitude de respeito e solidariedade aos “mortos e feridos”, até para não enveredarmos no ridículo e pagarmos um preço excedente, pela gaiatice de quem é responsável por soluções. - Paulo Mendes – Economista.

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