Hora de repensar a formação

Autores renomados de manuais de Introdução à Ciência Econômica, como Paul Samuelson por exemplo, utilizaram o dilema da produção entre canhões e manteiga, espadas e arados, para ilustrar a “Curva de Possibilidades de Produção” numa economia. Referem-se, às possibilidades aplicáveis de utilização dos fatores disponíveis (recursos naturais, mão de obra, capital e tecnologia), na produção de bens econômicos necessários para atender às demandas dos consumidores.
Um tema primário, que às vezes não merecia a devida atenção de estudantes e profissionais da área, mas, que, nos últimos tempos tem sido objeto de preocupação dos estudiosos e analistas internacionais, diante o dilema presente da produção de alimentos e bio-combustiveis.
O recente surto inflacionário que atinge os preços dos alimentos, tem sido objeto de discussões acirradas nas reuniões de cúpula e, deverá ocupar espaço prioritário, na próxima reunião do denominado “G-8”, o grupo de nações mais desenvolvidas do mundo, incluindo a Rússia, mais pela sua importância militar e política.
De um momento para outro, surgem relatórios elaborados por governos e organizações internacionais, contendo dados dispares, ora responsabilizando a crescente ocupação de áreas agricultáveis, para produção das diversas bio-massas conversíveis em combustíveis, ora apresentando argumentos em defesa destes.
Cenários de caos ou de calmaria, expressam estes relatórios, que em síntese, ao meu ver, demonstram verdades inquestionáveis: a) seus autores, inegavelmente, adotam argumentos parciais, porque defendem interesses desta ou daquela facção; b) pouco se conhece efetivamente sobre a questão, em termos de dados dignos de credibilidade ou de impactos futuros sobre as reservas de recursos disponíveis.
As razões, podem parecer simplórias: embora os cursos de formação na área econômica, dispensem especial atenção ao problema da escassez de recursos para atender necessidades crescentes e ilimitadas, pouco propiciaram aos estudantes da área, em termos de informações concretas sobre a disponibilidade de fatores, em especial, os recursos naturais. Alunos sofrem a cada semestre, um “entulhamento” de informações sobre “teorias dos consumidores, dos jogos e do caos”; métodos quantitativos; políticas monetária e fiscal; políticas de combate à inflação; etc, mas, “Recursos produtivos” – matéria que deveria ser indispensável, simplesmente inexiste na maioria dos currículos, ou quando muito, aparece como mera “opcional”, para completar carga horaria !
De outro lado, no caso brasileiro em especial, as “políticas agrícolas”, colocadas em pratica, sempre estiveram desvinculadas da noção de “alimentos” efetivamente aplicável à realidade nacional. Ou seja, os governos que se sucederam, sempre dispensaram especial atenção aos ditos “produtos nobres” – aqueles que geram divisas com a exportação, ultimamente, neles também incluídos aqueles produtos utilizáveis na produção de matéria prima conversível em bio-combustiveis.
Alguém já ouviu falar em algum “Instituto do Feijão e do Trigo”? Ou numa “CEPLAC da mandioca”? Ou de algum “grande projeto de produção de arroz”? São alimentos básicos, e que naturalmente, sofreram grande impacto inflacionário nos dois últimos anos, por conta de indisfarçável desequilíbrio entre demanda e oferta, diante a ausência de políticas agrícolas voltadas ao apoio e expansão da produção, porque não se trata de “produtos nobres”... O que dizer então do tomate, da batata, do quiabo, da abóbora, da manga, da jaca, da banana, e por ai vai.
Evidentemente, o surto inflacionário que já se delineava nos últimos anos, decorre de variáveis diversas. Mas, seria interessante se nossos dirigentes melhor atentassem para as questões aqui sugeridas. Acho que merecem reflexão. - Paulo Mendes – Economista.

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