A crise dos quatro “efes”
Ao que a agencia de noticias chinesa, Xinhua, denominou a crise dos três “efes”: (food prices, fuel prices and financial turmoil, ou: preços da comida, preços do petróleo e turbulência financeira), dever-se-ia acrescentar no caso brasileiro, a “falta de capricho”.
Evidentemente, a crise dos alimentos que afeta varias nações no mundo, deve merecer preocupação do governo brasileiro, principalmente, pelos reflexos inflacionários que se fazem sentir. Entretanto, não podemos limitar nossas discussões, tirando o foco dos maiores problemas brasileiros, para enveredar no tema preferido das cúpulas internacionais: a interminável pendenga entre os bio-combustiveis e a produção de alimentos.
A economia brasileira sofre há muito tempo, de males internos, ao meu ver, de maior proporção que os eventuais impactos da destinação de terras agricultáveis, para a crescente produção de matéria prima conversível em bio-combustiveis.
Refiro-me a duas questões: de um lado, as perdas imensuráveis sofridas pela nossa agricultura e pecuária, em decorrência de uma logística precária (meios de transporte deficitários, combinados com vias de escoamento da produção em estado lastimável e ausência de sistemas de armazenagem adequados); de outro, a persistência na falta de políticas agrícolas que melhor contemplem a produção de alimentos para mercado interno (produção de subsistência), tradicionalmente relegada a plano inferior, em detrimento de apoio continuado à produção dos ditos “produtos nobres” (aqueles que freqüentam nossa pauta de exportações).
Temos observado um crescimento substancial do “agronegocio”, mas os índices anuais de perdas de alimentos, por falta ou deficiência logística, ainda representam uma vergonha nacional. Se enfrentado o problema com determinação, para alcançar ao menos, uma redução de 30 a 50% destas perdas, teríamos uma oferta adicional, suficiente para reequilibrar o mercado interno e, até ampliar nossas exportações.
A crise dos três “efes”, que afeta o mundo, também afeta a economia brasileira; mas, a crise do “quarto efe”, tem reflexos danosos para nosso mercado interno, realimentando a inflação dos alimentos, que reduz o poder de compra das classes menos favorecidas. A exemplo, as recentes correções aplicadas ao salário mínimo e, aos valores do bolsa-familia, já foram tragadas pelos impulsos crescentes dos índices inflacionários, com maior impacto para as classes de rendas mais baixas.
Paralelamente às duas questões suscitadas, é preciso rever os programas de distribuição e ocupação desordenada de terras, destinadas a uma suposta e milionária “reforma agrária”; malgrado a montanha de recursos e áreas de terra até então fartamente distribuídos, estamos criando uma geração de “novos proprietários, que sequer produzem a própria comida”. Uma relação “custo/beneficio” negativa, que precisa ser revertida, através medidas de apoio diferenciado – técnico, logístico – que conduzam à real fixação da mão de obra no campo, aliadas a real comprometimento de produção aferível em termos concretos, voltada principalmente às culturas e criações de subsistência.
Entendo que, a tão decantada “função social da terra”, constitucionalmente arguida e questionada em razão de “índices de produtividade”, deve ser atendida. Mas, pergunto: alguém tem se ocupado em aferir adequadamente os novos “índices de produtividade”, de terras desapropriadas, porque antes julgadas “improdutivas” ? Quanto tem custado à sociedade cada novo hectare desapropriado e a nova produção obtida ? O povo sem terras e sem alimentos suficientes quer saber.
Estas questões, estão a requerer mais capricho e competência.(Paulo Mendes – Economista)
Evidentemente, a crise dos alimentos que afeta varias nações no mundo, deve merecer preocupação do governo brasileiro, principalmente, pelos reflexos inflacionários que se fazem sentir. Entretanto, não podemos limitar nossas discussões, tirando o foco dos maiores problemas brasileiros, para enveredar no tema preferido das cúpulas internacionais: a interminável pendenga entre os bio-combustiveis e a produção de alimentos.
A economia brasileira sofre há muito tempo, de males internos, ao meu ver, de maior proporção que os eventuais impactos da destinação de terras agricultáveis, para a crescente produção de matéria prima conversível em bio-combustiveis.
Refiro-me a duas questões: de um lado, as perdas imensuráveis sofridas pela nossa agricultura e pecuária, em decorrência de uma logística precária (meios de transporte deficitários, combinados com vias de escoamento da produção em estado lastimável e ausência de sistemas de armazenagem adequados); de outro, a persistência na falta de políticas agrícolas que melhor contemplem a produção de alimentos para mercado interno (produção de subsistência), tradicionalmente relegada a plano inferior, em detrimento de apoio continuado à produção dos ditos “produtos nobres” (aqueles que freqüentam nossa pauta de exportações).
Temos observado um crescimento substancial do “agronegocio”, mas os índices anuais de perdas de alimentos, por falta ou deficiência logística, ainda representam uma vergonha nacional. Se enfrentado o problema com determinação, para alcançar ao menos, uma redução de 30 a 50% destas perdas, teríamos uma oferta adicional, suficiente para reequilibrar o mercado interno e, até ampliar nossas exportações.
A crise dos três “efes”, que afeta o mundo, também afeta a economia brasileira; mas, a crise do “quarto efe”, tem reflexos danosos para nosso mercado interno, realimentando a inflação dos alimentos, que reduz o poder de compra das classes menos favorecidas. A exemplo, as recentes correções aplicadas ao salário mínimo e, aos valores do bolsa-familia, já foram tragadas pelos impulsos crescentes dos índices inflacionários, com maior impacto para as classes de rendas mais baixas.
Paralelamente às duas questões suscitadas, é preciso rever os programas de distribuição e ocupação desordenada de terras, destinadas a uma suposta e milionária “reforma agrária”; malgrado a montanha de recursos e áreas de terra até então fartamente distribuídos, estamos criando uma geração de “novos proprietários, que sequer produzem a própria comida”. Uma relação “custo/beneficio” negativa, que precisa ser revertida, através medidas de apoio diferenciado – técnico, logístico – que conduzam à real fixação da mão de obra no campo, aliadas a real comprometimento de produção aferível em termos concretos, voltada principalmente às culturas e criações de subsistência.
Entendo que, a tão decantada “função social da terra”, constitucionalmente arguida e questionada em razão de “índices de produtividade”, deve ser atendida. Mas, pergunto: alguém tem se ocupado em aferir adequadamente os novos “índices de produtividade”, de terras desapropriadas, porque antes julgadas “improdutivas” ? Quanto tem custado à sociedade cada novo hectare desapropriado e a nova produção obtida ? O povo sem terras e sem alimentos suficientes quer saber.
Estas questões, estão a requerer mais capricho e competência.(Paulo Mendes – Economista)
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